29 de janeiro de 2010

Cinco meses depois

Estou de volta ao trabalho. Das outras vezes escureci em casa. Fiquei carrancuda. Chata. A maternidade oprimiu-me. Agora, acho que era a tese por acabar que me pesava nos ombros. Não os filhos.

Desta vez desabrochei e é agora, de volta, que me sinto cinzenta. Apetecia-me ficar em casa e mandar a faculdade às urtigas. O João não percebe. Diz que com os filhos mais velhos ia sentir falta do trabalho para me preencher. Mas o meu trabalho não me preenche, esvazia-me: o tempo, a energia, a criatividade.

Confunde-se "não trabalhar" com ociosidade. Eu gostava de "não trabalhar" precisamente porque há tanta coisa que gosto e quero fazer. Tanta coisa mais útil, até, do ponto de vista social. Tanta coisa pela qual mais valia receber. Mas hoje se "não se recebe", "não se trabalha". É o ordenado ao fim do mês que valida o contributo de cada um. Que nos rotula de trabalhador, ou pária da sociedade.

Ao fim de 40 anos, estamos na mesma. Dantes, ai da mulher que desejasse uma carreira. Agora, ai da mulher que não a deseje. O feminismo lixou-me. Vou arder no inferno, já sei. E o diabo há-de mandar-me escrever artigos, analisar dados e candidatar-me a bolsas por toda a eternidade.