18 de agosto de 2012

Mamã

A Rita, às vezes, chama-me mamã. Eu não gosto, acho piroso, e corrijo-a:

- Não sou mamã, sou mãe
- Não és mamã, mamã?
- Sou mãe.
- És mãe, mamã?
- Sim.
- Está bem, mãe-mamã.

Outras vezes chama-me mãe. Dias a fio. São dias de independência. Brinca mais com os irmãos. Faz mais birras, aceita menos opiniões. De repente, um dia, "Tu não és mãe!". Eu sorrio. "Não? Então sou o quê?". "És mamã". "Dá-me um beijinho", ela dá. "Outro", ela dá. "Agora aqui, demora muito", ela dá, repenicado. "E um abraço apertado?", ela abraça-me. Eu aperto-a, cheiro-lhe o cheiro a chocolate dos cabelos, e quero que ela nunca deixe de me chamar mamã. Mas digo:

- Não sou mamã, sou mãe.