19 de novembro de 2009

5

Cinco anos. Primeiro desenho da família a 5. Todos com cinco dedos em cada mão, sempre. Normalmente o espaço da folha só é gerido para caberem 4 de nós. Mas a Rita está no sling e, tal como na realidade, quase não ocupa espaço próprio porque é ainda um apêndice de mim.

Continuamos sem pescoço, sem sapatos e sem estar penteados. É da preguiça.

6 de novembro de 2009

O xis da questão

O Luis passou os terrible two e adianta-se pelos terrible three. Menos choros e birras, mais teimosias. Tira os sapatos. Não! Não tires as meias. Sim! Espera que estou a dar de mamar à Rita. Agora! Tudo com muito drama.

Ao comer sopa de letras começa a gritar "Xis não, xis não". E eu, porque só quero paz e sossego, trato de tirar xizes para a borda do prato. No fim enche a colher: "Agora todos!" Engole uma colherada de Xxxxx e a cozinha fica finalmente em silêncio.

1 de novembro de 2009

29 de setembro de 2009

Rita

Já nasceu há mais de um mês mas, como é a terceira, ainda não havia fotos.

24 de julho de 2009

Não se nota

A mais coisa menos coisa de 4 semanas do parto, resolvi andar com o cartão do SNS comigo. Não vá ser preciso, assim de repente. Tinha-o perdido (ao papel A4, para quem espera o cartão há 5 anos). Passei por lá e foram rápidos e eficientes: imprimiram-me um novo na hora, fiquei novamente encartada. "Já agora", disse eu, "não me pode colocar a indicação de isenção de taxa moderadora?". Parece que não. O mais que evidente bebé dentro de mim não chega, não me qualifica. Só estou grávida se um médico o disser.

Eu compreendo, é para evitar as fraudes, eu poderia estar a mentir. Aliás, garantem-me as minhas primas, "de costas nem se nota nada Joana!".

15 de maio de 2009

Um presente

Ontem não fui buscar o Pedro à escola, como de costume. Ao chegar a casa, uma surpresa, um desenho da família: Pai, Pedro, Luis. No canto, uma nota escrita pela educadora: "A mãe não cabe no desenho porque está muito gorda e ainda vai ficar mais porque tem a Rita lá dentro".

São a alegria de uma mulher, os filhos.

3 de abril de 2009

XX/XY

O meu sogro acha que não me teria feito nada mal brincar mais com bonecas quando era miúda.

19 de março de 2009

XX

O que mais ouço, desde a semana passada, é o quão feliz devo estar por ser menina. "É o que querias, não é?", "Finalmente conseguiste!", todos mais excitados com a notícia do que eu.

É verdade que assim existe um elemento adicional de novidade. É verdade. Mas, honestamente, honestamente, espero que seja uma menina Maria-rapaz.

9 de março de 2009

34

Pesam-me. Especialmente os últimos 4 ou 5. Sinto-o de cada vez que comparo memórias de infância com os meus colegas de gabinete. As deles são as minhas memórias de liceu, algumas dos primeiros anos da faculdade. Vivem com os pais, não sabem o que é o IMI, ou mesmo o IRS, e não sentem qualquer impacto com a descida da taxa de juro (o que é isso?). Nem sequer integram, todos os dias, o que se está a estragar no frigorífico, o que existe na dispensa, o que há que tirar do congelador, ou se é preciso dar um saltinho para comprar coentros à mercearia para fazer o jantar. São estas coisinhas que envelhecem.

Por outro lado, não me vendem à primeira o cartão de estacionamento da faculdade porque julgam que sou aluna, a menina do Boticário pede-me desculpa por só ter amostras da linha >30 para me oferecer, e respondo constantemente "já é o terceiro" quando me oferecem conselhos bem-intencionados sobre a gravidez.

Eu não pareço mais nova. A sociedade é que nos infantiliza até aos 30. Os pais querem-nos em casa, tiramos grau atrás de grau antes de encarar o mercado de trabalho, e temos que ter a casa, 2 carros e empregada antes de ter o primeiro filho. Saltamos da adolescência para o "34, já?!". Pois. Somos é velhos demais para crescer, já não temos energia.

12 de fevereiro de 2009

Rebanho

Há coisa de 1 ano que, aos sábados de manhã, sigo sozinha com os miúdos para as aulas de natação. Saímos mais depressa de casa, o João fica muito mais bem disposto por dormir até tarde, há aquilo do "bonding" e tal e é também a minha versão do "Yes, I can". Estes trabalhos capacitam-me.

Ultimamente, no entanto, a coisa não é bem assim. Sair da cama é um pesadelo. O Luis é a encarnação dos terríveis dois anos. Há 3 semanas consecutivas que o Pedro cai em poças de lama no caminho do, ou para, o carro. E ambos me pedem colo quando já carrego a barriga e os sacos.

Dou comigo a pensar que haveria papel urbano para os cães pastores. A um assobio meu faria-os correr à minha frente, evitando poças, apertando-lhes o cerco para não dispersarem para a estrada, impedindo que tirassem 10 senhas do dispensador de tickets da secretaria, ou que espalhassem os panfletos dos expositores pelo chão. Tais cães teriam, é claro, o mesmo estatuto de cães-guia. Para podermos andar com eles no Metro e encarreirar os miudos, alinhados, escada rolante acima. E, nos restaurantes, um pequeno rosnar à menor intenção de se enfiarem debaixo da mesa seria o suficiente para assegurar uma refeição menos indigesta.

Alguém, que eu não tenho energia, deveria pensar melhor nisto, no pastoreio urbano. Até lá, vou menos vezes à natação.

26 de janeiro de 2009

SG

Em casa do meu tio há muitas cadeiras de massagens. Uma delas, bastante boa: bruta q.b. Quando lá vamos, há fila para nos sentarmos 5 minutos. Ontem não me deixaram, viraram-se contra mim, disseram-me que estava grávida, não podia. Diziam umas instruções de um fabricante cioso de eventuais processos, que não era aconselhável a grávidas. Rebelei-me, "na minha barriga mando eu", e também não aprecio que me tratem como se não tivesse bom senso. Mas naquele momento eu era apenas um útero, um casulo. O indivíduo em mim desapareceu, esfumou-se, entre as baforadas de SG filtro que os guardiões da saúde do meu filho lançavam sobre mim.