Ontem cheguei mais tarde ao Lumiar. Já eram 8 da noite. O frio fez-me desistir de esperar uma boleia do João, ainda algures no centro de Lisboa, e plantar-me na paragem à espera do 108, o único que por ali passa e me carrega Estrada da Torre acima, por 2 ou 3 paragens. Costuma dizer "Galinheiras" em letras grandes e alterna com "via Alta de Lisboa", em mais pequeno. O 777 também é assim, o "via Alta de Lisboa" surge nos intervalos de "Ameixoeira". Aos poucos, começa a ser destino de gentes, a Alta de Lisboa. A palavra "via" dá-lhe ainda uma certa ideia de local por onde se passa, e onde se pode morar, sem ser, no entanto, um destino final, periférico, como o que fica implícito em "Galinheiras", "Ameixoeira", "Senhor Roubado". Penso nestas coisas enquanto escrutino o destino dos autocarros que se aproximam, na esperança do 108 que me tire do frio da rua.
Mas às 8 da noite, descobri eu ontem, passam na minha paragem mais autocarros do que o 108. Às 8 da noite, muitos dos números que por aí andam com destinos centrais como o "Saldanha", transformam-se qual carruagem em abóbora, mudam o letreiro para "Musgueira" e recolhem à garagem para passar a noite. Alguns deles, já fora de serviço, tornam-se nesta altura mais solidários e transportam sem perguntas quem espera para subir a Torre. Foi assim que ontem embarquei num qualquer que dizia "Musgueira". Lembra-me encostas viradas a Norte e manhãs frias de nevoeiro. Fez-me sentir que rumava a um local com histórias e memórias. Senti um certo conforto nisso.
Pergunto-me se qualquer dia os letreiros da Carris trocarão definitivamente "Musgueira" por "Alta de Lisboa", esconjurando assim os antigos fantasmas. Espero que não. Não é o hábito que faz o monge e "Musgueira" é um hábito tão mais bonito.
Mas às 8 da noite, descobri eu ontem, passam na minha paragem mais autocarros do que o 108. Às 8 da noite, muitos dos números que por aí andam com destinos centrais como o "Saldanha", transformam-se qual carruagem em abóbora, mudam o letreiro para "Musgueira" e recolhem à garagem para passar a noite. Alguns deles, já fora de serviço, tornam-se nesta altura mais solidários e transportam sem perguntas quem espera para subir a Torre. Foi assim que ontem embarquei num qualquer que dizia "Musgueira". Lembra-me encostas viradas a Norte e manhãs frias de nevoeiro. Fez-me sentir que rumava a um local com histórias e memórias. Senti um certo conforto nisso.
Pergunto-me se qualquer dia os letreiros da Carris trocarão definitivamente "Musgueira" por "Alta de Lisboa", esconjurando assim os antigos fantasmas. Espero que não. Não é o hábito que faz o monge e "Musgueira" é um hábito tão mais bonito.