18 de junho de 2007

Adiante

Algures lá pelo meio, jurei - e acreditei mesmo a sério - que com o final da tese chegava ao fim a minha "carreira" na ciência. Acabava-se o trabalho solitário e tantas vezes frustrante, acabava-se a pressão para publicar e, acima de tudo, acabava-se a precariedade das bolsas.

Apercebi-me agora que não cheguei a aprender a viver de outro modo. E que aos 32 já é tarde para tentar o primeiro real job. Vou, portanto, continuar a depender de mecenas, de bom tempo na Primavera e de horários de marés. Vou continuar a queixar-me da falta de respeito e a ter dificuldade em explicar socialmente a minha profissão. Mas, no fundo, no fundo, já não gostaria de fazer outra coisa.

Deixo os caranguejos-violinistas e subo na hierarquia filogenética. Estes serão os companheiros dos próximos 3 anos.


Se tudo correr bem, vou celebrar com um jantar de sushi.

8 de junho de 2007

Home alone

Deito-me sozinha muitas vezes. Gosto da sensação de 1,60m de largura de cama só para mim. De ter duas almofadas. De poder escolher de que lado quero a luz acesa. De adormecer atravessada. De saber que há lençois frescos, um pouco mais ao lado, quando faz demasiado calor no sítio em que estou. Gosto - mesmo muito - disto tudo, quando sei que vou ser acordada com um "chega para lá"; ou resmungar estremunhada quando a almofada que prendo entre os joelhos me é arrancada para aconchegar a cabeça do João que se deita ao meu lado.

Mas quando sei que sou dona e senhora da minha cama durante uma noite inteira; e que se acordar sozinha, às 3 da manhã, não vai haver luz acesa no escritório a justificar a ausência, estes prazeres esvanecem-se perante o lugar vazio. Fico na sala à espera do sono que, invariavelmente, vem mais tarde do que é costume. Vejo séries perdidas. Sinto saudades.

Ser pendura custa, mesmo quando não se partilha a viagem.

1 de junho de 2007

Mesa farta em dia de fastio

Pela primeira vez desde há 2 anos e meio não tenho que sair a correr a meio do trabalho em mãos para ir buscar um filho à creche. Mas, por acaso, terminei à hora do costume.

Posso, se quiser, dar uma volta na baixa. Ver montras. Fazer planos de última hora. Mas, por acaso, não surgiram nenhuns.

Não tenho jantar de obrigação para fazer. Não há ninguém a pedir-me massinhas ou salsichas. Há duas caixas de sopa no frigorífico. Há restos. Há a possibilidade de jantar fora sem ter que arranjar babysitter. Mas, por acaso, até já tinha decidido de manhã a ementa. E até me apetece.


Sinto-me como alguém que comeu que nem um abade e olha tristemente para o que ainda resta na mesa, com pena de já não caber. Sabendo que, no dia seguinte, iria saber que nem ginjas!