20 de dezembro de 2007

A festa

Quando era miúda levava as festas de Natal da escola muito a sério. Lembro-me de uma vez em que era suposto dançar num rancho. A professora só quis ensaiar meninos que tivessem a certeza absoluta que iriam à festa. Repetia isso todos os dias. "Tens a certeza que vais? Já falaste com os teus pais?". Eu tinha.

Na véspera do dia marcado passei a noite em branco com uma dor de dentes. Dormi aos soluços, no dia seguinte, sempre a pedir à minha mãe que me levasse à festa nos intervalos. Tinha que lá estar, tinha um compromisso. Não me levou. Passei o resto do fim-de-semana sem saber como encarar a professora depois de tanta garantia dada. Chegou segunda-feira e ninguém me disse nada. Não sei se por palavra prévia dos meus pais, se porque realmente não era importante para ela. Eu era só mais uma aluna e era só mais uma festa na escola. Mas foi a primeira vez, que me lembre, que senti o peso de faltar à minha palavra. E a impotência de não depender de mim a decisão de ir ou não ir.

Não sei se todos os miúdos encaram as coisas assim. Suspeito que não. Mas lembro-me sempre disto quando se trata, agora, das festas dos meus filhos. Sei lá eu avaliar o empenho, a expectativa, que por ali vai. Há que corresponder.

E depois, convenhamos, também há expectativas do lado de cá. Não há programa alternativo que supere a minha estrelinha amarela, parado no meio do palco, a procurar-nos com os olhos enquanto tira um macaco do nariz. É de derreter qualquer mãe.

2 comentários:

Ju disse...

Excelente! :)

Manuel Rocha disse...

E não andará por aí o tal sentido do que é essencial ?

Namasté !