No meio de arrumações encontro os meus antigos livros de pano com dedicatória do meu avô. "Para a Joana no seu primeiro aniversário como lembrança de seus avós Belém e Celina". Numa letra certinha que ainda hoje é a minha inveja. O meu avô deixava dedicatórias em tudo o que oferecia. Deu-me uma garrafa de vinho do Porto de presente de baptismo com dedicatória e instruções para apenas a abrir no dia do meu casamento. Quando era miúda costumava namorá-la. Volta e meia ia buscá-la ao bar e pedia-lhe para me ler o que estava escrito. "E se não me casar?". "Se não casares abres no dia em que fizeres 35 anos". Memorizei isto. Aos 35 estaria, portanto, oficialmente encalhada.
Durante quase toda a adolescência achei que a tal garrafa seria aberta aos 35. Era esse o meu destino. Imaginava-me como aquela mulher da Laranja Mecânica: só, numa casa cheia de gatos e a estátua de uma pila no aparador. Volta e meia tomaria chá com a minha prima Marta que teria ficado para tia como eu. Mas o João apareceu. Tenho os miúdos. Só tive um gato durante 15 dias. E a minha prima entretanto morreu. Quanto à estatueta fálica, nunca encontrei nenhuma que gostasse. Se vir alguma assim de inspiração Cutileiro talvez a compre e coloque perto do "Anjo caído", nú, que tenho numa das paredes, para completar a desaprovação da minha avó. Já hoje me diz "Ele está bem feitinho, tem os pés e as mão muito bem feitinhos... Mas estar assim logo com o rabo virado para a porta, para quem entra... Não sei, não gosto". É assim que recebemos os amigos lá em casa.
Agora deixei-me de imaginar futuros. No máximo dos máximos imagino alguns meses adiante, alguma disponibilidade a mais, as férias de Verão, mas mais não. Talvez porque já não recebo prendas com dedicatórias, intruções e "para sempre".
Durante quase toda a adolescência achei que a tal garrafa seria aberta aos 35. Era esse o meu destino. Imaginava-me como aquela mulher da Laranja Mecânica: só, numa casa cheia de gatos e a estátua de uma pila no aparador. Volta e meia tomaria chá com a minha prima Marta que teria ficado para tia como eu. Mas o João apareceu. Tenho os miúdos. Só tive um gato durante 15 dias. E a minha prima entretanto morreu. Quanto à estatueta fálica, nunca encontrei nenhuma que gostasse. Se vir alguma assim de inspiração Cutileiro talvez a compre e coloque perto do "Anjo caído", nú, que tenho numa das paredes, para completar a desaprovação da minha avó. Já hoje me diz "Ele está bem feitinho, tem os pés e as mão muito bem feitinhos... Mas estar assim logo com o rabo virado para a porta, para quem entra... Não sei, não gosto". É assim que recebemos os amigos lá em casa.
Agora deixei-me de imaginar futuros. No máximo dos máximos imagino alguns meses adiante, alguma disponibilidade a mais, as férias de Verão, mas mais não. Talvez porque já não recebo prendas com dedicatórias, intruções e "para sempre".
2 comentários:
kaganda mentirosa !!!
Aposto um falo by Cutileiro em como já pensou mais que uma vez como iria ser a sua vida quando os putos forem para a faculdade...
Agrada-me essa prosa. Parece um riacho em certas manhãs de Maio. Corre...
Bom Ano, "Balzaquiana"!
Obrigada e um "bom ano" de volta.
E, é verdade. Quando os miudos forem adolescentes combinei com o João deixar-lhes a casa e fugirmos algures para o Alentejo.
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