Foi no Domingo passado, um dia quente de Primavera, mas já a adivinhar os dias cinzentos que se seguiram.
Começámos em Lisboa. Eu, ainda de carro com os miúdos. Os outros três - João, Pedro e Susana - já nas motos onde seguiriamos viagem. Em Corroios largámos os filhos com os avós. Coloquei o capacete e vesti o casaco de Verão do João, que me fica demasiado grande em algumas partes do corpo e demasiado pequeno noutras - as curvas, as desejadas e as indesejadas, exigem roupa custom made - e começámos, então, o passeio.
Em Alcácer do Sal parámos para um café e para decidir, exactamente, o itenerário. Já dava pela existência das minhas costas e o forro velho do capacete das namoradas do meu irmão dava-me uma comichão insuportável. Troquei de capacete com o João, só para constatar, afinal, que era o meu cabelo que me irritava o couro cabeludo.
Seguimos Alentejo fora com destino a Serpa, para almoço. Pelo caminho fui apontando as buganvílias ao João, que as olhava desinteressado. Sou a única a depositar esperanças e esforços na que está na varanda, portanto.
Em Serpa custou-me dar os primeiros passos depois de descer da moto, mas a Sopa de Cação que me esperava animou-me. Para fazer tempo, enquanto esperávamos mesa, tomámos uma imperial no Lebrinha, porque parece que é obrigatório. E é mesmo!
Depois do almoço já só apetecia giboiar, mas tínhamos decidido chegar a Mina de S. Domingos, antes de voltar para cima. Improvisei uma fita no cabelo por causa da comichão - resultou - e seguimos. Era bonito, mas a urgência* de voltar não me deixou apreciar este bocadinho do Alentejo.
Começou então o regresso: Castro Verde, Grândola, Alcácer, de novo, Corroios-Lisboa. Ainda antes de Castro Verde vi uma placa a dizer "Lisboa 220" que me fez doer o corpo e a alma. As costas já não me sustentavam, era eu que as sustentava a elas. O frio do entardecer começou a entranhar-se nos ossos. A posição no assento fez-me maldizer cada pedra no caminho, cada lomba que transposemos. Em Grândola comecei a pensar obsessivamente na banheira de hidromassagem dos meus pais. Em Setúbal começou a chover. Só percebi quando ouvi o barulho da chuva a bater no capacete.
Pouco depois, chegámos.
Com um casaco à minha medida e à medida do frio que faz lá fora, fita para o cabelo, e uma mala para a moto onde me possa encostar, acho que repito a aventura. E nestes 500 km à pendura ocorreu-me que eu e o João só partilhamos actividades onde não podemos trocar uma palavra: isto e o mergulho. Mas entendemo-nos bem nestes silêncios.
* É que isto de deixar os miúdos com os pais faz-me sempre sentir uma adolescente que está a voltar para casa demasiado tarde. E quando chegar vão ralhar-me e não me deixam sair de novo por um mês inteiro, de castigo.
Começámos em Lisboa. Eu, ainda de carro com os miúdos. Os outros três - João, Pedro e Susana - já nas motos onde seguiriamos viagem. Em Corroios largámos os filhos com os avós. Coloquei o capacete e vesti o casaco de Verão do João, que me fica demasiado grande em algumas partes do corpo e demasiado pequeno noutras - as curvas, as desejadas e as indesejadas, exigem roupa custom made - e começámos, então, o passeio.
Em Alcácer do Sal parámos para um café e para decidir, exactamente, o itenerário. Já dava pela existência das minhas costas e o forro velho do capacete das namoradas do meu irmão dava-me uma comichão insuportável. Troquei de capacete com o João, só para constatar, afinal, que era o meu cabelo que me irritava o couro cabeludo.
Seguimos Alentejo fora com destino a Serpa, para almoço. Pelo caminho fui apontando as buganvílias ao João, que as olhava desinteressado. Sou a única a depositar esperanças e esforços na que está na varanda, portanto.
Em Serpa custou-me dar os primeiros passos depois de descer da moto, mas a Sopa de Cação que me esperava animou-me. Para fazer tempo, enquanto esperávamos mesa, tomámos uma imperial no Lebrinha, porque parece que é obrigatório. E é mesmo!
Depois do almoço já só apetecia giboiar, mas tínhamos decidido chegar a Mina de S. Domingos, antes de voltar para cima. Improvisei uma fita no cabelo por causa da comichão - resultou - e seguimos. Era bonito, mas a urgência* de voltar não me deixou apreciar este bocadinho do Alentejo.
Começou então o regresso: Castro Verde, Grândola, Alcácer, de novo, Corroios-Lisboa. Ainda antes de Castro Verde vi uma placa a dizer "Lisboa 220" que me fez doer o corpo e a alma. As costas já não me sustentavam, era eu que as sustentava a elas. O frio do entardecer começou a entranhar-se nos ossos. A posição no assento fez-me maldizer cada pedra no caminho, cada lomba que transposemos. Em Grândola comecei a pensar obsessivamente na banheira de hidromassagem dos meus pais. Em Setúbal começou a chover. Só percebi quando ouvi o barulho da chuva a bater no capacete.
Pouco depois, chegámos.
Com um casaco à minha medida e à medida do frio que faz lá fora, fita para o cabelo, e uma mala para a moto onde me possa encostar, acho que repito a aventura. E nestes 500 km à pendura ocorreu-me que eu e o João só partilhamos actividades onde não podemos trocar uma palavra: isto e o mergulho. Mas entendemo-nos bem nestes silêncios.
* É que isto de deixar os miúdos com os pais faz-me sempre sentir uma adolescente que está a voltar para casa demasiado tarde. E quando chegar vão ralhar-me e não me deixam sair de novo por um mês inteiro, de castigo.
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