9 de julho de 2007

Manel

Em Outubro morreu um tio meu. Um tio ainda jovem. Tão jovem que eu nem chamava tio. Era o Manel. Morreu. Foi morto! No Brasil. E o meu irmão por lá, com ele, em viagem.

Atendo o telefone. A minha mãe diz-me de chofre "Aconteceu uma desgraça, mataram o Manel". Lembro-me bem das palavras. Do resto lembro-me menos. Os detalhes "não parece ter sido assalto, não se sabe, estava no banho, entrou um homem de capuz". E eu a pensar "Isso não me interessa, porque me contas agora? E o Adriano? O Adriano? O Adriano?". O Adriano estava bem, era óbvio. Se não estivesse eu não teria mãe em condição de contar detalhes. Mas carecia de confirmação que as deduções levam tempo.

Se falo nisto hoje é porque ouvi ontem uns ecos da investigação. Surpreendentemente, continua aberta, parece. Continuo sem sentir qualquer curiosidade pelos detalhes do crime. Se não me fosse tão próximo talvez sentisse. Prefiro não saber a razão do que descobri-la mesquinha, como provavelmente é, e facilmente evitável. Não me interessa quem o fez. Um pobre de espírito qualquer. Nem sequer desejo que lhe cresça a consciência e viva o tormento da culpa. Que isso é humanizá-lo. Espero que seja preso, mas não preciso de saber que o foi. Para mim o assunto abriu-se e encerrou-se com a morte do Manel. Remexer traz inquietude. É melhor descansar em paz.

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