24 de outubro de 2007

Super

Volta e meia penso nisto.

Nas salas de espera folheio revistas com mulheres de negócios elegantes, com ar de quem acabou de fazer um mês de férias nos antípodas, envergando modelos da última colecção e com o discurso de que não há nada mais importante do que os seus filhos, nada que lhes roube o justo tempo com eles. E gostam também muito de cozinhar, levantar-se às 5 da manhã e ir pessoalmente comprar pão ainda quente para tomarem o pequeno-almoço à mesa, todos juntos, em família. Leio-as com algum sentimento de desadequação. Afinal eu só sou mais ou menos. Sem carreira que me pague ordenado condigno, sem férias que me descansem, sem tempo para os filhos quando chego a casa, um guarda-roupa algo desadequado a qualquer situação que se apresente, e o meu pequeno-almoço é muitas vezes pão de há 4 dias atrás, em torradas, intervalado com a lavagem de dentes do Pedro ou algum outro afazer doméstico matinal. Pensando bem, sou pior que mais ou menos.

Por isso, volta e meia, penso nisto. E quando conseguimos equilibrar o orçamento mais um mês apesar de só haver um ordenado na família, organizar as idas e vindas de todos com um carro e um passe, levantar cedo ao Sábado para conseguir levar os miudos à natação, participar nos projectos que as escolas vão pedindo, e fazer jantares e almoço para o dia seguinte todos os dias, já me sinto bastante competente. Exausta, acabada, liquefeita, não-super, mas competente.

Super, super, só quando apanho uma molha enquanto carrego o Luis e levo o Pedro pela mão. E chego a casa a coxear por causa de uma bolha no calcanhar. Como ontem. Foi uma bela massagem ao ego, sentir-me assim, super. Estava a precisar.

Sem comentários: