14 de novembro de 2007

Um copo d'água

Num café onde parei ocasionalmente, como em tantos outros, um rapaz entrou e pediu um copo de água. Pela primeira vez na vida ouvi, pasma, as razões de um comerciante para não aceder ao pedido. Que vendia era garrafas de água, não era copos. Que estava ali desde as 5 da manhã. Que ninguém trabalha de graça. Se acaso sabia qual a sua conta de água mensal. Quando por fim, de forma bruta, colocou o copo cheio no balcão o rapaz já não o quis. Saiu ofendido. Fez ele bem. Tanto veneno espumado, algum havia de ter caído ao copo.

Tristes tempos, estes, em que se nega um copo de água. É o que penso e foi o que disse. Foi algo do género, também, que lhe disse uma senhora de idade a terminar um galão e uma torrada. Era cliente habitual e nunca mais lá iria. À saida mostrou-me que levava, à revelia, o pacote de açucar não utilizado, "para ele aprender!".

O rapaz, esse, passou depois à porta com uma garrafa de água fresca comprada no café seguinte.

Coitado do senhor do café! Para além de paupérrimo de espírito, ficou mais pobre em três potenciais clientes, uma garrafa de água, e um pacote de açúcar.

Sem comentários: